Era por volta das seis horas da tarde quando os fogos estouraram no alto do céu. A barulheira ensurdecedora anunciava que a festa havia começado. A festa da democracia, da libertação, do orgulho. Se fosse possível traduzir a comemoração dos 191 anos de emancipação política de Sergipe em uma só palavra, eu conseguiria dizer a você, leitor, apenas uma: orgulho.
E ao ver toda a alegria que tomava conta da Praça São Francisco em São Cristóvão, eu não conseguia entender o porquê deste sentimento. Afinal, era só mais um feriado, só mais uma data comemorativa. Porque as pessoas vibravam tanto ao som das zambumbas do maracatu e festejavam tão animadamente esta data? Foi então, num lapso de memória, que consegui compreender...
Enquanto os parafusos dançavam sincrônica e perfeitamente em torno de si mesmos, na tarde daquela sexta, 8 de julho, lembrei de quando era menina e minha professora de história contava a todos na sala de aula sobre as danças e os folguedos sergipanos. A forma como contava me fazia querer estar dentro da dança, sentir o ritmo e movimento daquelas manifestações que emanavam energia e alegria para os espectadores. Saber que toda aquela cultura fazia parte do lugar onde eu cresci me deixou contente. E esta, foi a primeira vez em que conscientemente me senti feliz por ser sergipana.
Hoje, sei que o que senti naquela época não era uma felicidade qualquer. Era orgulho. Aquele do qual falei lá em cima. Orgulho de fazer parte de um estado tão rico e tão cheios de belezas. E foi assim que compreendi a alegria de se comemorar o 8 de julho.
É no 8 de julho que todo sergipano tem a oportunidade de celebrar uma das nossas maiores vitórias. Há 191 anos, quando D. João VI assinou a Carta Régia que desanexava o território Sergipano à Capitania da Bahia, ele concedeu a Sergipe não só o direito de ser livre política e economicamente do nosso vizinho. Mais que isso. Ele deu aos sergipanos o direito de sentir-se verdadeiramente sergipano, de ser parte de algo que é seu.
Esta data é o símbolo da liberdade e da construção da sociedade sergipana. Foi em 1820 que tudo verdadeiramente começou. A Emancipação política de Sergipe resultou de uma luta madura, empreendida pela elite produtora local - criadores de gado e senhores de engenho – até então responsáveis pelo abastecimento das grandes Capitanias da Bahia e de Pernambuco. A reação da Bahia, rejeitando os fatos, criando obstáculos, gerando conflitos, bem demonstrava a tutela, para adiar a decisão do Rei. No entanto, os sergipanos lutaram bravamente para conquistar o seu espaço. Foi da luta contra os holandeses exploradores que A Constituição do Império, que é de 1824, colocou Sergipe entre as Províncias do Brasil, consolidando a Emancipação de 8 de julho de 1820.
Compreendido o sentimento, deixei-me contagiar pela alegria que tomava conta da praça. E observei. Observei que todos aqueles que prestigiaram o evento estavam felizes. Desde os turistas, que com suas famílias dançavam timidamente o som do samba de coco, aos moradores do próprio município que tinham em seus rostos a tradução do orgulho sergipano.
E assim, como em mim, o sentimento de orgulho apossou-se de todos naquela noite, naquela praça. Para os São Cristovenses então, a data tinha um gostinho ainda melhor. Neste dia, foi entregue à Praça São Francisco, pelas mãos da ministra da Cultura Ana de Hollanda, o título de Patrimônio Histórico da Humanidade. A sensação de ser reconhecido, de mostrar ao mundo o que uma cidade tão pequena tem de melhor para mostrar estava visível, ou melhor, "sensível" no clima da festa. Uma emoção que ficou registrada nos sorrisos escancarados que estampavam os rostos de jovens, crianças, adultos e senhorinhas.
Mesmo quem somente visitava, orgulhava-se de ter em seu país um patrimônio que agora é de todo o mundo. Mas para os sergipanos, o 8 de julho significa o resgate de raízes. A rememoração do sentimento patriótico, e, acima de tudo, a valorização de sua sergipanidade. Comemorar a emancipação política de Sergipe dá no sergipano a certeza de que em 191 anos, gerações e gerações cumpriram bem o seu papel. O Estado cresceu, se desenvolveu e hoje é o símbolo do progresso social. Esta é uma data que faz com que nós nos lembremos da nossa história e, baseados nos exemplos do passado, construamos um caminho de progresso e de justiça social para o futuro.
